O II Congresso Internacional em Humanidades Digitais (HDRio20/21), realizado na semana passada, deixou um legado de estudos e debates sobre formas de encararmos as inúmeras encruzilhadas impostas pelas tecnologias digitais no dia a dia, enxergando oportunidades de crescimento, ao invés de obstáculos.
Realizado pelo Laboratório de Preservação e Gestão de Acervos Digitais (Labogad) do Centro de Ciências Humanas e Sociais da UNIRIO e coorganizado pelo Instituto Urca e pela Associação Brasileira em Humanidades Digitais, o encontro reuniu especialistas brasileiros e de vários outros países.
No último dia do congresso, o Encontro Sul-Sul e o evento que selou a criação da Associação Brasileira em Humanidades Digitais trouxeram um importante desfecho às quase 60 horas de debates, mesas redondas, palestras e workshops.
O evento estabeleceu um produtivo intercâmbio entre os países localizados no Hemisfério Sul, daí o nome Encontro Sul Sul. O africano Luís Frederico, do Cabo Verde, falou do maior desafio hoje no continente, que é o de preparar os jovens para que se tornem os futuros líderes digitais.
“Os obstáculos são muitos, mas, ao mesmo tempo, refletem em inúmeras oportunidades”. Os maiores gargalos enfrentados pelos líderes africanos são o acesso à energia, tecnologia e conectividade”, disse o africano.
Luís Frederico destacou que muito tem sido feito para promover o que ele chamou de “desacoplamento” da dependência do continente em relação às outras culturas. Isso equivale dizer que existe um movimento de adequação da tecnologia à realidade africana, incentivando a nacionalização de serviços. E, por que não, a criação de um canal próprio de streaming de filmes, tal como o Netflix, e uma nova forma de transporte individual no estilo Uber?
A ideia é incentivar o desenvolvimento de competências que resultem em soluções simples para problemas locais e promova saltos em inovação. E a África já está avançando nesse sentido, com o surgimento de cidades inteligentes (smart cities) em países como Marrocos, Tunísia e Cairo, entre outros.
Diante de tantas demandas, a Associação Brasileira das Humanidades Digitais, que acaba de ser criada, surge com a missão de estabelecer um vínculo importante nessa troca de aprendizado e conhecimento entre o Sul Global.
Para o professor da UNIRIO, Jair Martins de Miranda, um dos integrantes da ABHD, o momento é de promover um olhar voltado para o apoio a esses países, sobretudo, a África, que tem uma enorme influência sobre o Brasil. Segundo ele, “a interação entre os países ainda é mínima”.
Com isso, ficou estabelecido que serão estimuladas parcerias entre instituições acadêmicas, pensando na valorização cultural e linguística, e na formação de jovens com foco na redução das desigualdades sociais, através do conhecimento tecnológico, além da criação de um programa internacional e interinstitucional de pós-graduação em Humanidades Digitais para formação de professores e pesquisadores a partir de todo o legado deixado pelo congresso.
A criação da revista Brasileira em Humanidades Digitais e a organização de congressos a cada dois anos, também foram iniciativas acordadas nesta segunda edição.
Na opinião da artista, pesquisadora e empreendedora, Luiza Helena Guimarães, “o encontro trouxe pessoas, capacidades e pensamentos. Nós vamos nos empenhar muito nesse trabalho com foco nessa era digital”.
O congresso gerou muitas horas de debates sobre diversas áreas, em sintonia com o eixo central da iniciativa: o mundo digital. Entre os muitos temas discutidos virtualmente estão Humanidades Digitais, Ciência e Pandemia; Áreas Emergentes em Inovações na Era Digital; Humanidades Digitais no Contexto Sul-Global; A Paisagem Cultural Urbana; Humanidades Digitais na Realidade Brasileira; Laboratórios de Inovação Cidadã; Construindo desinformação: Desmontando Fake News;