Por Patrick Guimarães
No último sábado (19/02), o ex-prefeito de Niterói e pré-candidato a governador do Rio de Janeiro, Rodrigo Neves (PDT), esteve em São Gonçalo, onde caminhou pelo calçadão do bairro Alcântara e depois almoçou na Praia das Pedrinhas. Acessível, parou para conversar com as pessoas, tirou fotos e revelou que, se for eleito no fim deste ano, São Gonçalo será a primeira cidade do estado a receber um projeto amplo e moderno de desenvolvimento econômico e social. Sobre a tragédia (mais uma) em Petrópolis, Neves diz que o governo do estado deveria esquecer a politicagem e as eleições e focar no drama das pessoas atingidas.
Nessa entrevista exclusiva dada a O CONTEXTO, Rodrigo Neves falou sobre economia, educação, combate à criminalidade, geração de emprego e renda, investimento em educação, habitação e ressaltou a necessidade de resgatar a autoestima da população gonçalense, segunda maior do estado, através de iniciativas que resultem em melhorias reais para a cidade. Também destacou seus oito anos como prefeito de Niterói, atualmente a quarta cidade em qualidade de vida no país.
Desenvolvimento, emprego e renda
Rodrigo Neves reflete que “hoje, São Gonçalo tem cerca de 70% dos seus trabalhadores desempregados ou atuando no mercado informal. Tenho certeza de que, da mesma forma que fizemos nos oito anos do meu governo em Niterói, nós vamos reconstruir o estado. E vamos começar por São Gonçalo, seja criando frentes de trabalho, seja resgatando a ideia da educação em tempo integral, para que tenhamos um projeto de desenvolvimento econômico e social de verdade na cidade. Vamos começar esse projeto de geração de emprego e renda por São Gonçalo”.
O pedetista tem citado com frequência o termo new deal (em português, novo acordo) ecológico, que consiste em criar, além de emprego e renda, frentes de trabalho nos dois primeiros anos do governo. “Vamos atuar em áreas como saneamento, universalizando a coleta e o tratamento do esgoto e a distribuição de água tratada. Em Niterói, quando fui prefeito, levei água potável e esgoto tratado para todas as comunidades da cidade. Hoje, Niterói tem 100% do esgoto tratado e água tradada distribuída. Na educação, construí muitas novas escolas e coloquei todas as crianças em idade escolar em sala de aula”, explica.
Na visão de Rodrigo Neves, o meio ambiente também requer projetos relevantes, como ações de reflorestamento, recuperação ambiental e preservação de áeras.
Outro ponto importante abordado se refere à infraestrutura dos transportes nas cidades. “Vamos adotar medidas e investir em melhorias no setor, como modernização, acessibilidade, segurança e tecnologia, por exemplo”, destaca.
“Municípios como São Gonçalo precisam de um projeto de desenvolvimento econômico e social. Há muitos anos, a cidade não tem estratégia e planejamento. Também não conta com um governo do estado que atue no município e na região. Perdemos grandes indústrias, como as de tecelagem e a naval, que viraram pó. Hoje, a cidade possui um cemitério de plantas industriais, devido ao fechamento ou à saída das empresas. Nossa ideia é implementar um projeto que atraia investimentos e empresas para gerar emprego e renda. A cidade tem condições de rapidamente conseguir isso em setores como o naval, no qual precisamos retomar a discussão sobre a cadeia produtiva do óleo e do gás; e a construção civil, por exemplo”.
“Meu objetivo para São Gonçalo é gerar emprego e renda, atraindo investimentos, levar água e esgoto tratado para todas as regiões da cidade, atuar sobre a questão habitacional e colocar todas as crianças e jovens na escola, em tempo integral. Porque não há outro caminho que não seja pela educação”.
Segurança pública
“Por melhor que seja a estratégia de segurança pública, nós não vamos conseguir estancar e reverter esse processo acelerado de expansão do domínio de territórios por facções criminosas, se não tivermos a capacidade de melhorar as condições do mercado de trabalho, sobretudo reduzir a informalidade e o desemprego. É preciso investir em tecnologia, inteligência e conhecimento”, define.
Modo de gestão determina os rumos das cidades
“Assumi Niterói numa situação difícil, depois da tragédia do Morro do Bumba, a cidade não tinha projeto de curto prazo, estava endividada e com o orgulho ferido. Oito anos depois, entreguei a cidade com mais de R$ 1,5 bilhão em caixa, com a autoestima resgatada e com projeto de médio e longo prazo. A capacidade de reação do Estado do Rio e de cidades como São Gonçalo é muito grande. O que precisa é ter governo, planejamento, equipes competentes, comprometidas, e priorizar as coisas que necessitam de prioridade. Infelizmente não é isso que a gente tem tido com os últimos governos do estado”.
Sobre o governo que vai tentar a reeleição em outubro, Rodrigo é taxativo em sua crítica. “O atual governador caiu de paraquedas no cargo, a situação do desemprego no Rio é a pior do país, assim como a questão da violência. E a gestão da pandemia do coronavírus no estado, que registra a maior letalidade no Brasil e uma das maiores do mundo. Por que a gente não tem um governo do estado que funcione”, questiona Rodrigo.
Para reverter essa triste realidade no principal “cartão postal” do país, Neves explica o que pretende fazer.
“Nós vamos fazer parcerias com os prefeitos, independente de posições políticas-partidárias e somar esforços, por meio de um planejamento com os objetivos de gerar emprego e renda, colocar todas as crianças e jovens na escola, em tempo integral, levar água e esgoto tratado para todas as regiões, e trabalhar a questão da moradia. Acredito que assim a gente começa a reverter o esvaziamento econômico e o empobrecimento das cidades. São Gonçalo, por exemplo, já foi conhecida como a Manchester Fluminense e sofreu muito com a desindustrialização. Nós vamos mudar isso, porque São Gonçalo será prioridade”.
Petrópolis
“Ao invés de briga política, o que a gente precisa é que o Estado funcione, dando assistência total às famílias que perderam entes queridos. Não vejo isso acontecendo. Está faltando equipamentos, insumos, inclusive para o IML fazer a identificação dos corpos das vítimas. O governador tem que parar de fazer briga política, ajudar as famílias e apresentar um projeto de curto e médio prazo para aumentar a prevenção sobre desastres como o ocorrido em Petrópolis. Deve investir em contenção de encostas, sistema de defesa civil, e moradias sociais, porque ninguém quer morar em pirambeira ou em área de encosta”, sugere Rodrigo Neves.
Ainda sobre o assunto moradia, Neves expõe até uma certa indignação sobre como essa questão é tratada em âmbito nacional. “No Brasil, no Rio, esse problema sempre foi visto pelos governos como uma situação que deve ser enfrentada individualmente. Cada um por si. Entretanto, em qualquer país desenvolvido, a política habitacional não é uma questão relacionada somente ao esforço individual das pessoas. O assunto é tratado como uma política de estado. Precisamos mudar essa mentalidade no Brasil, a começar pelo Estado do Rio de Janeiro”.
Segundo Rodrigo Neves, a questão sobre o que ele chama de “habitação de interesse social” merece bastante atenção, devido a um déficit habitacional de 500 mil moradias no estado.
Na caminhada deste sábado (19/02), Rodrigo Neves foi acompanhado pelo vice-prefeito de Niterói, Paulo Bagueira (Solidariedade), pelos pedetistas Brizola Neto, Miguel Moraes e Henrique Porto, o vereador gonçalense Romário Régis (PC do B) e pelo petista Marlos Costa. Além deles, militantes seguiram juntos.
New Deal
Foi uma série de programas implementados nos Estados Unidos entre 1933 e 1937, sob o governo do presidente Franklin Delano Roosevelt, com o objetivo de recuperar e reformar a economia norte-americana, além de auxiliar os prejudicados pela Grande Depressão. Seu nome foi inspirado em Square Deal, nome dado por Theodore Roosevelt à sua política econômica.
Algumas referências literárias sobre New Deal
– Lipietz, Alain (1991). Audácia: uma alternativa para o século XXI. São Paulo: Nobel
– Fraser, Steve; Gerstle, Gary, eds. (1989). The rise and fall of the New Deal order, 1930-1980. Princeton: Princeton University Press
– Morgan, Iwan W. (1994). Beyond the Liberal Consensus: Political History of the United States Since 1965. [S.l.]: C. Hurst & Co Publishers Ltd. ISBN 978-1850652045
– Venn, Fiona (1998). The New Deal. Edinburgh: Edinburgh University Press. ISBN 1-57958-145-5
– Billington, Ray Allen; Ridge, Martin (1981). American History After 1865. [S.l.]: Rowman & Littlefield
