Por Patrick Guimarães
Em pleno domingo (2/03/2025) de Carnaval, as atenções em todo país se voltaram para os Estados Unidos, mas não por questões geopolíticas e sim pelo Oscar 2025. Fernanda Torres, elencada ainda mais pela genialidade e sensibilidade do cineasta Walter Salles, trouxe de volta um gostinho do orgulho de ser brasileiro. A história do deputado Rubens Paiva sequestrado em casa e morto pela ditadura militar, que outrora delineou os rumos do Brasil, mexeu com sentimentos intocáveis, e até abriu feridas, mas, sobretudo, destacou a verdade e gerou reflexão. Isso em um período delicado em que vivemos, no qual os pensamentos contrários estão rompendo a capacidade de diálogo entre as partes. O ser humano está cada vez mais intolerante e subdividido em bolhas de pensamento.
Dividir é bom e necessário, porém quando tem o objetivo de somar. Tirar a parte do outro na marra não é divisão, é subtração autoritária, o que não é bom para ninguém.
Chegamos a um ponto em que não conseguimos mais atingir um denominador comum. A matemática social está sempre desfavorável para todos. Estamos perdendo a capacidade de resolver as coisas através do diálogo e quando isso acontece, na verdade, nada se resolve, de fato. A tendência é haver uma escalada de tensões, como as que já vivemos em nossa sociedade.
Quando a capacidade de entender um ao outro se esgota, o que passa a valer é a intolerância – um passo para violências físicas e psicológicas. Cada um entende e defende somente aquilo em que acredita e passa a desconsiderar a opinião alheia.
Uma das características que nos unem enquanto seres humanos é o livre arbítrio, ou seja, cada um tem o mesmo direito de querer algo de forma bem específica. Contudo, deve haver um equilíbrio e um não deve ignorar os anseios do outro.
A palavra bem colocada é meio passo para o entendimento. Não basta apenas falar e ouvir, é preciso compreender o que se fala e se ouve. Para tanto, tem que se colocar no lugar do outro.
Sabemos que não é uma tarefa fácil, afinal, as guerras entre povos são presentes em toda história da humanidade. Apesar dos milênios de convivência que se passaram, nunca nos entendemos, a bem da realidade. Mas precisamos ter a capacidade de ver além do que os olhos enxergam e com isso evitar o pior.
Dividir as sociedades sempre foi uma estratégia para manter a manipulação econômica e social. Quanto mais divididos, mais fracos somos perante o mundo e apenas “meia dúzia” (metaforicamente falando) de famílias oligárquicas atingem seus objetivos. Os detentores do capital estão nos países colonizadores, que ainda pensam como tal.
Apesar de alguns países terem conquistado a independência há 200 anos, como o Brasil, ainda sofrem o controle de quem tem o domínio da economia mundial. Com exceção dos Estados Unidos, que após se libertar dos ingleses, seus colonizadores, se tornaram os maiores colonizadores do mundo moderno.
Infelizmente, no Brasil ainda existem defensores de regimes totalitários. Na maioria dos casos de opinião faltam argumentos para a defesa do tema, seja porque não viveu ou não sofreu nada no período em que os militares assumiram o Brasil, ou simplesmente por falta de informação, por achar “legal” ter um governo reprimindo a liberdade de expressão, de cultura e a cidadania. Acham que o Brasil vai mudar de uma hora para a outra, como num passe de mágica, mas isso é impossível.
Algumas coisas não têm mais volta. O mundo mudou, as pessoas mudaram. É indispensável entender isso, pois nada será como antes, como muitos de nós gostaríamos que fosse, independente da visão político-social de cada um.
O Brasil tem sérios problemas a serem resolvidos, sobretudo no que diz respeito às regalias direcionadas aos Três Poderes da República (Judiciário, Legislativo e Executivo). Existem, sim, muitas questões injustas a serem corrigidas, mas que não devem ser feitas através do autoritarismo.
A história contada no filme “Ainda Estou Aqui” mostra apenas um pedacinho do drama real daquele período ditatorial. No entanto, representa todos que sofreram com a violência do estado brasileiro naquela época e surgiu em um momento importante, em nível mundial, para fazer refletir e não nos deixar esquecer. Os livros de história servem para enxergarmos nossos erros e não repeti-los.
Certamente, esse Carnaval será lembrado eternamente por reunir tantos significados e sentimentos…
* Imagem gerada por IA