O Olaria Atlético Clube, dos mais tradicionais clubes da Leopoldina e do Rio de Janeiro, está completando 106 anos nesta quinta-feira (01/07). A data, sempre grandemente comemorada pelos moradores do bairro, este ano não comporta as mesmas comemorações do passado devido à pandemia da Covid-19. Mas as memórias e lembranças da torcida olariense têm transcendido a presença física e se fazendo ver e ouvir por redes sociais e manifestações públicas. Nomes relevantes como o ex-atacante Romário e o treinador Joel Santana parabenizaram o clube por meio de vídeos nesta data. E isso tem uma razão muito especial: ambos – entre muitos outros – começaram suas carreiras no Azulão, um antigo celeiro de grandes figuras do futebol brasileiro.
Fundado em 1º de julho de 1915, o Olaria Atlético Clube destacou-se, em seus primeiros anos, nas divisões inferiores do Rio de Janeiro, ganhando mais notoriedade a partir da década de 1930, quando passou a defrontar os grandes. Após dez anos afastado das competições oficiais, retornou nos anos 1940, com estádio novo (a atual Rua Bariri) e se fortalecendo como um dos representantes do subúrbio da cidade contra as grandes forças como Flamengo, Vasco da Gama, Fluminense, Botafogo, America e Bangu. Foi a partir daí, também, que o potencial revelador do clube cresceu, assim como seus feitos.
Bicampeão mundial, Castilho começou na Leopoldina
O primeiro grande craque a ser formado no Olaria foi o goleiro Castilho, um dos maiores ídolos da história do Fluminense. Ainda garoto, com 17 anos, chegou ao Alvianil vindo do Tupã, de Brás de Pina. Inicialmente ponta-esquerda, ele virou goleiro por improviso, já que um titular do posto havia faltado. Levado ao Olaria por Menezes – pai do grande Ademir Menezes, artilheiro do Vasco -, Castilho não chegou a jogar já por sua nova posição, mas foi formado pela equipe suburbana, que serviu de ponte para que fosse lembrado por Menezes quando Ademir foi para o Fluminense, em 1946. Indicado e aceito, ficou nas Laranjeiras por 20 anos, se tornou o jogador com mais atuações pelo clube (698) e foi bicampeão mundial com a Seleção Brasileira.
Um dos primeiros brasileiros a fazer sucesso no exterior, o rápido e habilidoso ponta-direita Canário jogou pouco pelo time principal do Olaria após sua subida dos aspirantes, em 1954, mas o suficiente para chamar a atenção do America, onde ficou por quatro anos, foi vice-campeão carioca e chegou à Seleção Brasileira. Depois, seu talento alertou o Real Madrid (ESP), então tetracampeão europeu, para onde se transferiu no inverno de 1959. Lá, jogou ao lado de Di Stéfano e Puskás entre outros, tornando-se o primeiro brasileiro a vencer a Copa dos Campeões (atual Liga dos Campeões da Europa), faturando ainda um título mundial e dois espanhóis pelo clube. Jogou mais tarde por Sevilla, Zaragoza e Mallorca.
Quem seguiu os passos destes craques foi o lateral-direito Murilo. Também capaz de jogar como zagueiro, não tardou para ser chamado dos aspirantes pelo técnico Jair Boaventura. Foi titular absoluto do setor entre os anos de 1959 e 1962, sendo chamado à seleção carioca e se destacando nas sólidas campanhas olarienses nos Cariocas da ocasião. Após quase 100 partidas com a camisa da faixa azul-celeste, Murilo acabou adquirido pelo Flamengo, clube pelo qual jogou por dez temporadas e disputou 448 partidas. Até a chegada de Léo Moura, no Século XXI, era ele o lateral-direito com mais atuações pelo Fla em todos os tempos, ainda hoje recordado como um dos maiores de sua posição pelo Rubro-Negro.
De Joel a Romário, uma base reveladora
Outro destacado jogador a ter dado seus primeiros passos em Mourão Filho foi Jarbas Faustinho, o Cané. O atacante estreou pelo Olaria em 1960 e tornou-se titular por duas temporadas, marcando oito gols em duas edições do Campeonato Carioca. Dois deles foram especiais: em cima do Flamengo, na vitória por 3 a 2, em 1961. Pretendido pelo Vasco e pelos paulistas Corinthians e Portuguesa, Cané negou-se a deixar o Olaria, em princípio, mas acabou balançado por uma proposta do Napoli (ITA), de Cr$ 17 milhões. Ao aceitar, tornou-se o primeiro negro a atuar no “Calcio”, a elite do futebol italiano. Ficou lá por 13 anos, atuando também pelo Bari, e tornou-se treinador. É, até os dias atuais, um dos maiores artilheiros do clube napolitano.
O carismático Joel Santana pode ser recordado atualmente como um grande treinador, mas sua história com o Olaria é antiga. Nascido no bairro, ele defendeu o clube na categoria infanto-juvenil nos anos 60, chegando ao Vasco da Gama em 1970, já no time profissional e retornando à Bariri em 1973, por empréstimo. Pelo clube de São Januário, o então zagueiro foi campeão brasileiro e carioca, encerrando sua carreira de jogador pelo América (RN). Como treinador, é o único a ter sido campeão carioca por todos os quatro grandes clubes do Rio, além de ter conquistado o título brasileiro de 2000 pelo Vasco, assumindo a equipe nos últimos jogos.
Mas a grande joia revelada pelo Olaria foi mesmo o pequeno Romário. Em 1979, o Baixinho desembarcou no clube para suas primeiras oportunidades. Logo na temporada de estreia, ele foi artilheiro do Campeonato Carioca para jogadores com até 15 anos e ficou mais um ano no clube, até sair para o Vasco da Gama numa problemática transferência, já que Romário não tinha um vínculo oficial com o Olaria. Apesar de ficar quase um ano sem jogar em São Januário, após um apelação olariense, o camisa 11 despontou com tudo e se tornaria um dos maiores atacantes e artilheiros da História, além de campeão brasileiro, quatro vezes campeão carioca (por clubes) duas Copa América e uma Copa do Mundo (com a Seleção Brasileira).
Baiano de Salvador, Robert chegou ao Olaria em 1986, aos 15 anos. Destacado desde cedo na base, ganhou suas primeiras oportunidades no elenco principal em 1990, pela segunda divisão do Campeonato Carioca. Acabou observado no ano seguinte, na mesma Segundona, pelo Guarani (SP), que pretendia reformular seu elenco para a temporada e decidiu contratar o pequeno meio-campista. No Bugre, jogou ao lado de Amoroso, Djalminha e Luizão na campanha do Brasileirão de 1994, no qual os campineiros chegaram à semifinal. Depois, Robert passou ainda por Santos (SP), Grêmio (RS), Atlético (MG) e Corinthians (SP), passando ainda pela Seleção Brasileira e encerrando a carreira no America. É campeão brasileiro de 2002, pelo Peixe.
Atualmente na terceira divisão do Carioca, seu pior posto em todos os tempos, o Olaria chega aos 106 anos pensando em como fazer para reeerguer-se num cenário cada vez mais complicado para os clubes de menor investimento. Após a morte recente de Augusto Pinto Monteiro, que liderou o Azulão por mais de 30 anos, a equipe vive um momento de renovação, com obras estruturais na sede, investimento em marketing e a busca por novos parceiros e patrocinadores. O primeiro passo para o retorno aos grandes dias é a próxima edição da Série B1 do Estadual, marcada para o segundo semestre.
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