Por Patrick Guimarães
O governo federal parece não se cansar de adotar medidas equivocadas e passar vergonha perante a ciência e a justiça. Quase um mês após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovar a inclusão de crianças de 5 a 11 anos no Plano Nacional de Vacinação (PNI) contra a covid-19, o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que são contra a medida, tiveram que voltar atrás. O governo divulgou que uma remessa de 1,2 milhão de doses do imunizante da Pfizer, único aprovado pela agência reguladora, começarão a ser distribuídos para os municípios a partir do dia 14 deste mês.
Novamente contrariando a classe científica, na semana passada, dia 27/12, Bolsonaro disse que sua filha, de 11 anos, não será vacinada contra a Covid-19.
“Espero que não haja interferência do Judiciário, porque a minha filha não vai se vacinar, estou deixando bem claro. Ela tem 11 anos de idade. O mundo ainda tem dúvidas (sobre a vacina em crianças) e não vem morrendo crianças que justifique uma vacina emergencial”, declarou Bolsonaro, como se fosse um especialista em genética e infectologia.
Apesar de fazer pirraça, o presidente foi obrigado, mais uma vez, a retroceder e guardar seus ideais para si próprio, deixando quem entende do assunto definir a questão. Para o ministro Marcelo Queiroga, a derrota foi igual, já que ele defendia sem questionar as falas do presidente sobre o assunto. O ministério chegou a propor a exigência de prescrição médica para vacinar as crianças, o que acabou sendo derrubado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Até uma consulta pública foi realizada pela pasta. Formas de dificultar o processo de vacinação nos pequeninos.
No fim dessa novela, iniciada pelo embate entre o Planalto e os técnicos da Anvisa, no mês passado, a história se repete traduzida na sobreposição da ciência à ideologia sem fundamentos e estudos técnicos de Bolsonaro.
Orientação de quem entende – “A pandemia só vai acabar quando grande parte da população estiver vacinada. Sem as crianças imunizadas, a transmissão da doença continuará em alta e oferecendo risco às pessoas, sobretudo aos idosos e aqueles com comorbidades. Também representa risco para o surgimento de novas variantes”, afirma o médico infectologista André Bon.
De acordo com o plano de vacinação, o Brasil vai receber, ainda no primeiro trimestre deste ano, 20 milhões de doses pediátricas destinadas ao público-alvo, que soma aproximadamente 20,5 milhões de crianças. A imunização será feita com duas doses, em um intervalo de oito semanas entre as aplicações. Cabe destacar que o tempo é superior ao previsto na bula da vacina da Pfizer. Na indicação da marca, as duas doses do imunizante poderiam ser aplicadas com três semanas de diferença.
Segundo o Ministério da Saúde, será preciso que a criança seja vacinada acompanhada dos pais ou responsáveis, ou leve uma autorização por escrito. Existe uma ordem de prioridade, privilegiando pessoas com comorbidades e com deficiências permanentes; indígenas e quilombolas; crianças que vivem com pessoas com riscos de evoluir para quadros graves da covid-19; e em seguida crianças sem comorbidades.