Um trecho de oito quilômetros da orla do Rio de Janeiro, localizado na Zona Oeste, tornou-se palco de uma disputa sangrenta entre uma milícia e duas facções do tráfico de drogas. Esse cenário de conflito se estende desde o Posto 12, no Recreio, até Grumari, abrangendo as praias do Pontal, da Macumba e a Prainha, e tem resultado em mortes, inclusive de pessoas inocentes. No quarto capítulo de uma série especial composta por cinco capítulos sobre as milícias, parte de um projeto exclusivo para assinantes chamado “Tem Que Ler”, O GLOBO explora o que está em jogo nesse trecho da orla carioca: o controle do mercado de extorsão e a venda de drogas.
Para a milícia, originária da favela vizinha do Terreirão e subordinada a Luis Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, a disputa envolve o controle de um lucrativo mercado de extorsão na região. Nesse território, praticamente tudo é taxado, desde estacionamentos na orla até vendedores ambulantes que trabalham na areia. Por outro lado, as duas facções do tráfico de drogas almejam explorar a venda de entorpecentes na praia e nas festas realizadas na orla, além de realizar entregas de maconha e cocaína nas proximidades.
Embora a atuação de paramilitares e traficantes nesse trecho seja uma realidade há pelo menos uma década, o conflito se intensificou ao longo deste ano, influenciado pela guerra interna na maior milícia do Rio e pelo avanço da maior facção do tráfico no estado sobre áreas controladas pelos paramilitares. Até 2021, a milícia do Terreirão, então liderada por Wellington da Silva Braga, conhecido como Ecko e irmão de Zinho, coexistia pacificamente com um grupo de traficantes originários da Vila do João, no Complexo da Maré. Esse grupo se instalou na praia e começou a vender maconha e cocaína para os banhistas, e entre seus membros estavam os criminosos apontados como autores do homicídio do vigilante Leandro.