Não é novidade que São Gonçalo sofre com a falta de obras estruturais e, principalmente, com drenagem e rede de águas pluviais nos dias chuvosos. Na noite desta segunda-feira (13/02), diante de uma chuva típica de versão – e rápida – chuva que caiu na cidade, algumas das principais vias do município foram tomadas por bolsões d’água. Os alagamentos, causados em poucos minutos, provocaram transtornos especialmente para os motoristas. A ventania também derrubou árvores.
Em alguns bairros, a rua desapareceu totalmente dando lugar a água com correnteza, como verdadeiros rios. Moradores registraram a alta no volume de água no Mutuá, Trindade, Galo Branco, Neves, Barro Vermelho, Estrela do Norte, entre outros.
“Em 10 minutos eu perdi o que construí em 10 anos. Cadê o prefeito Capitão Nelson? Cadê o deputado estadual Douglas Ruas. O prefeito pediu e o gonçalense voltou com o filho nele pra quê? Nessa hora ninguém aparece. Só querem voto”, lamenta a dona de casa Sheila Cruz, 65 anos e moradora do Engenho Pequeno. Sem domínio das lágrimas, ela repete a palavra “livramento” para explicar o fato de ter sobrevivido com sua filha de sete anos porque subiu no terceiro andar de um prédio, que caiu horas depois.
No Mutuá, um leitor gravou o momento em que a água invadiu uma barbearia. No Galo Branco, quem fazia compras no Supermercado Guanabara acabou ficando ilhado por algumas horas até que a chuva cessou. Também no Mutuá, na Avenida 18 do Forte, principal acesso de quem sai do Centro de São Gonçalo para a Rodovia Niterói-Manilha, ficou bastante alagada.
Nem o Pronto Socorro Central Dr. Armando Gomes de Sá Couto, no Zé Garoto, escapou das chuvas. Vídeos que circulam nas redes sociais e aplicativos de mensagem mostram os profissionais de saúde, pacientes e familiares andando no interior da unidade de saúde com águas nos pés. Um aparelho de ar-condicionado se transformou numa verdadeira cachoeira.
Outro local onde os moradores se apavoram com a chegada da temporada de chuvas é a rua da Prece, também na Vila Prudente. “Esta via sempre foi ponto de enchente, mas, a cada ano que passa, parece que fica pior. Tirando algumas limpezas de bueiro, a Prefeitura não fez nada por aqui nos últimos anos. Moro aqui há 30 anos e essa foi a maior tragédia que vivenciei. Nunca tinha visto uma enchente tão grande como a que ocorreu em março passado. A água ultrapassou o meu muro e a comporta, que têm quase dois metros de altura, arrombou a porta e invadiu a sala e a cozinha”, comenta o morador Humberto Gomes Oliveira.
A enchente atingiu as dependências da faculdade Universo, no bairro da Trindade. Alunos, professores e funcionários da instituição não conseguiram sair. Alguns pedestres precisam transitar apoiados nas grades do parque para tentar fugir da água. Em outro as ruas, vários carros acabaram arrastados pela força da água. No principal centro comercial da cidade que é o Alcântara não foi diferente. Comerciantes, motoristas e pedestres precisam transitar apoiados na enchente para tentar fugir da água.
Uma das moradoras do local que sofreu perdas com a força da água e teme pelo pior mais uma vez é a professora Eliana Kaiser e moradora do bairro Luiz Caçador. “Dentro de casa, a água chegou a 1,5 metro. Perdi muita coisa. Com a reforma, inclusive elétrica, e a compra dos aparelhos e móveis danificados, tive um gasto de cerca de R$ 40 mil”, argumenta. “O pior é que depois disso não vi nenhuma ação da Prefeitura neste trecho para evitar que as enchentes voltem a acontecer. Estou com medo”, destaca Eliana.