EXCLUSIVO: entrevista com empresário do RJ durante fuga da Ucrânia

Guerra Rússia x Ucrânia
Foto: Divulgação/Reprodução
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Nos últimos quatro dias, direto da Ucrânia, empresário niteroiense relatou o desespero e a falta de iniciativa da embaixada brasileira para retirar os brasileiros da zona de guerra. Enquanto isso, Bolsonaro postava fake News sobre o assunto em suas redes sociais, como se estivesse tudo bem

Por Patrick Guimarães

O CONTEXTO fez uma entrevista exclusiva, em tempo real, com o empresário Marcus Klauss, enquanto ele e outros brasileiros, incluindo jogadores de futebol que atuam na Ucrânia, realizavam uma fuga dramática do país a bordo de um comboio militar. Em um relato de desespero, esperança e incerteza, Klauss, que já morou em São Gonçalo e hoje tem residência em Niterói, representou a angústia para sair da zona de guerra, que atinge intensamente a capital, Kiev, onde todos estavam no início da reportagem. Em mais um retrato da humanidade sendo humanidade, bem no centro da guerra, o empresário criticou veementemente o governo brasileiro pela falta de iniciativa para retirar os brasileiros da zona de conflito.

Na sexta-feira (25/02), no fim da tarde (horário de Brasília), ainda em um hotel em Kiev, capital da Ucrânia, o empresário Marcus Klauss falou com a reportagem de O CONTEXTO. A fala tensa expressava bem a angústia de estar preso em um país sob diversos tipos de ataques, além dos militares.

“Ainda estamos no hotel. Íamos pegar um trem para a Romênia hoje (25/02), mas soldados russos e ucranianos estão se enfrentando no caminho por onde precisamos passar para chegar até a estação. Estamos na expectativa”, disse Klaus, enquanto a cidade era atingida por uma série de bombardeios.

A viagem não aconteceu naquele dia, que foi bastante violento em Kiev, sob consecutivos ataques.

Voltamos a nos falar na manhã de sábado (26/02), quando a esperança ressurgiu. Klauss e os outros brasileiros se preparavam para, finalmente, deixar a Ucrânia, rumo à Romênia. No entanto, sem saber, as dezenas de brasileiros que o acompanhavam, assim como ele próprio, ainda tomariam conhecimento de que o destino iria mudar.

Prédio residencial de civis bombardeado em Kiev

Com um bebê chorando ao fundo, dentro de um hotel em Kiev, Klauss nos relatou o desespero que estavam vivendo. “O que eu posso falar é que a situação aqui está caótica, os russos estão invadindo a capital Kiev, muitas bombas, muitos tiros. A gente escuta isso durante a madrugada toda, principalmente, mas também estão atacando durante o dia. Estão (os russos) invadindo pontos estratégicos da Ucrânia. Dizem que já acertaram prédios de apartamentos de civis, residenciais, só que em regra estão atacando pontos estratégicos, como bases militares, estações de energia, de abastecimento de combustíveis, entre outros”, contou o empresário.  

Sobre os movimentos dos refugiados para deixar o país sob ataque, Klauss disse à reportagem que “as pessoas estão pegando estradas muito lotadas e indo em direção ao oeste do país para fugir pela Romênia ou Polônia. A informações que recebemos agora (no sábado, dia 26) é que cerca de 60 soldados russos pousaram em helicópteros na cidade de Lviv. Os ucranianos estão tentando retirar os invasores de lá, já que por ser localizada perto da fronteira com a Polônia, é um ponto bastante estratégico para as pessoas fugirem daqui do país”.

Ele continua:

“Nesse momento, estamos aqui no hotel aguardando solução e analisando um plano de fuga. E aguardando também que a embaixada do Brasil tome realmente uma atitude efetiva para nos tirar daqui. As informações que chegam dizem que Putin quer trocar o governo ucraniano para outro pró-Rússia, e está incitando os próprios militares ucranianos a tomar o poder, mas isso não está ocorrendo e o povo daqui está resistindo”, disse.

No dia seguinte, domingo (27), novamente nos falamos por telefone. Enquanto o presidente Jair Bolsonaro postava fotos de brasileiros que conseguiram fugir do conflito, claramente irritado e decepcionado, Marcus Klauss fez duras críticas à embaixada brasileira na Ucrânia. Ele aparece em um dos posts do presidente em rede social.

“A embaixada brasileira foi somente informativa e não nos ofereceu nenhuma estrutura ou apoio para sair da Ucrânia. Só nos diziam para ficar dentro da residência ou do hotel, mas sabíamos que isso não era tão seguro assim, já que a cidade estava sob ataque e prédios de civis também estavam sofrendo bombardeios. Quem realmente nos ajudou foi a União das Federações Europeias de Futebol (Uefa) e as confederações de futebol da Ucrânia e da Moldávia. Foram essas instituições que nos deram todo o aparato, como abrigo, alimentação e transportes”, revela Klauss.

Foto com Marcus postada por Bolsonaro em rede social: atuação da embaixada foi duramente criticada pelo brasileiro

Sem nenhum tipo de proteção, o empresário contou que, no dia anterior (26), ele e os outros brasileiros foram para a estação de trem por conta própria. Apesar do risco iminente nas ruas, eles conseguiram chegar na estação, onde pegaram um trem para a Moldávia, país que fica entre a Ucrânia e a Romênia.

“Daqui vamos para um hotel em Bucareste, na Romênia”, revelou, um pouco mais aliviado, devido a ter conseguido fugir da área do conflito.

Nesta segunda-feira (28), Marcus disse que já está na Romênia, onde decidiu permanecer por mais alguns dias. “Meus amigos vão retornar para o Brasil ainda hoje (28) e eu ficarei sozinho para analisar algumas questões profissionais”.

Marcus estava a trabalho na Ucrânia há 8 meses e demonstrou profunda tristeza pela destruição do país. “É um lugar lindo, com belezas naturais e pessoas boas. É triste ver o que está acontecendo”, lamentou o empresário, que possui visto de entrada e vai ao país desde 2013. Na Romênia, ele afirmou ter recebido um pouco mais de atenção da embaixada brasileira, porém já estava fora de perigo.

Apesar de o conflito ter começado há vários dias, somente no sábado o governo brasileiro disse que disponibilizaria dois aviões para transportar os brasileiros de volta para casa.

* Co-produção: Danilo Bello.

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