O CONTEXTO ENTREVISTA: Dimas Gadelha

Foto: Divulgação/Reprodução
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Por Patrick Guimarães

Ele é médico sanitarista, formado na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), também em gestão pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e ex-secretário de Saúde de São Gonçalo por quase quatro anos. Atualmente, é secretário de Gestão e Metas de Maricá, município que vem se destacando nacionalmente no quesito gestão pública. Também disputou a prefeitura de São Gonçalo no ano passado, não sendo eleito no segundo turno por menos de 1% dos votos válidos na cidade. Com pelo menos 20 anos de atuação técnica e administrativa no serviço público, Dimas Gadelha apresentou sua análise sobre questões sociais e econômicas, como segurança pública, educação, saúde e geração de emprego e oportunidade. Ele considera a necessidade de integração entre os municípios da região para atingir resultados positivos para todos.

O CONTEXTO – Como você enxerga o aumento crescente da criminalidade e violência nas cidades? Como o Rio de Janeiro pode mudar essa realidade?

DIMAS GADELHA –O combate à violência não se restringe ao atual modelo de enfrentamento, que parece não ter dado certo. Enquanto a estrutura do crime se fortalece, as cadeias continuam cada vez mais cheias e sem oferecer chances reais de reabilitação para milhares de pessoas. Nessa guerra, todos saem perdendo. Policiais, pessoas inocentes ou envolvidas com a criminalidade. O sistema falhou nessa missão. Faltam políticas públicas que resultem em dados sólidos e isso abrange diversas áreas, que deveriam dar suporte às forças de segurança. A polícia se arrisca para fazer seu trabalho, enquanto os reflexos de uma sociedade abandonada tentam se impor em seus territórios.

São Gonçalo, por exemplo, segunda maior população do Estado do Rio. Não é de hoje que vem sofrendo com a violência desenfreada em seus bairros. Nas últimas décadas, a cidade cresceu sem nenhum planejamento, nem social e nem econômico. A população só aumenta, mas não tem emprego, nem oportunidades de inserção para os jovens. Para a maioria, não tem opção de lazer, não tem moradia decente, não tem segurança. Não tem desenvolvimento humano.

Acredito que ninguém se envolve com o crime por vontade própria. As condições de vida e a falta de oportunidades acabam ocasionando essas tragédias nas vidas de milhões de pessoas.

Pode parecer um discurso clichê, batido, mas é verdade que tudo começa pela educação, e isso vai muito além das salas de aula. Na formação de crianças e adolescentes tudo deve ser levado em consideração. Esse aluno ou aluna tem estrutura familiar? Tem apoio, orientação e é bem cuidado? Seus pais têm estudo, emprego, renda? Muitos problemas, como a exclusão social, são heranças que passam de pais para filhos. Os governos precisam enxergar que ignorar um problema hoje pode gerar um muito pior no futuro, que é o que a gente está vivendo atualmente.

Medo da violência, do desemprego, da falta de oportunidades, da insegurança alimentar, entre outros. As desigualdades são frutos da falta de estrutura nas áreas mais sensíveis da sociedade. Isso só vai começar a mudar com inciativas modernas e bem planejadas, nas quais o cidadão esteja sempre em primeiro lugar.

Dimas Gadelha e o prefeito de Maricá, Fabiano Horta, cidade onde é secretário de Gestão e Metas

O CONTEXTO – No Leste Fluminense, percebe-se um enorme distanciamento entre as realidades de alguns municípios. Destacam-se Niterói e Maricá, onde você é secretário de Gestão e Metas, quando se fala em qualidade de vida e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), devido à série de investimentos feitos por estas prefeituras em benefício da população. De modo geral, o subdesenvolvimento das cidades vizinhas não dificulta a vida de todos?

DG – No meu entendimento, acho que as cidades deveriam pensar em integrar suas políticas públicas, em todas as áreas. Com apoio um do outro, os municípios precisam pensar em recuperar suas regiões como um todo. Não basta uma cidade se desenvolver sozinha, pois os reflexos das vizinhas serão sentidos. Segurança, educação, saúde, geração de emprego, esporte, lazer e cultura. São pontos que deveriam ser integrados entre as cidades para obtermos resultados significativos em seus índices de desenvolvimento.

O CONTEXTO – Você foi secretário de Saúde de São Gonçalo por quase quatro anos e conseguiu inserir novos aparelhos e programas de saúde no município. Como uma gestão deve olhar as demandas da população?

DG – Acho que em primeiro lugar a gente deve enxergar as pessoas com respeito e dar a atenção que precisam. Ninguém procura um médico ou hospital porque quer. A pessoa está ali porque precisa de ajuda. Esse olhar é fundamental para uma boa gestão em saúde. Antes de assumir cargos de chefia atuei anos na linha de frente do sistema público de saúde. Isso me ajudou a enxergar a real demanda que a população apresenta.

Quando fui secretário de Saúde em São Gonçalo, busquei ampliar as opções de atendimento da rede pública. São Gonçalo tem a segunda maior população do Estado e as demandas são enormes. Nesse período, implementei na cidade 11 unidades básicas de saúde, nove academias da saúde, cinco clínicas da família, duas Unidades Municipais de Pronto Atendimento (UMPAS), o Serviço Atendimento Domiciliar (SAD), o Centro de Imagem Municipal, o Espaço Rosa, a Clínica da Criança, o primeiro Laboratório Municipal de Análises Clínicas de SG. Também criei cinco unidades de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), outras seis Residências Terapêuticas (RT’s), além do primeiro Ambulatório Ampliado em Saúde Mental de São Gonçalo.

Tem muitas outras ações registradas, como a maternidade municipal que fazia 80 partos por mês e ampliamos para 500. Quanto melhor for o aparelhamento e a gestão da saúde do município, melhor será o retorno para a população.

Páginas da entrevista na versão impressa da REVISTA O CONTEXTO. No detalhe a capa desta edição

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