O inusitado encontro recente entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em um centro de lançamento espacial no Extremo Oriente Russo, tem gerado preocupações entre países ocidentais, sobretudo os Estados Unidos e Kiev, que estão diretamente envolvidos no conflito na Ucrânia.
No entanto, a China, que desempenha um papel econômico crucial tanto para Moscou quanto para Pyongyang, pode ter uma perspectiva diferente sobre essa reunião. Em vez de tentar se opor ou limitar a cooperação entre Rússia e Coreia do Norte, Pequim pode ver mais benefícios do que riscos nessa parceria emergente, principalmente em relação à sua rivalidade de grande potência com os Estados Unidos.
Embora não esteja claro o grau de conhecimento que as autoridades chinesas têm sobre as negociações entre Coreia do Norte e Rússia, analistas acreditam que a reunião em si pode não ter avançado sem levar em consideração os interesses da China.
De acordo com Alexander Korolev, professor de Política e Relações Internacionais na Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, “Dada a importância do apoio que a China presta a ambos, ela está, naturalmente, em segundo plano.”
Nem a Coreia do Norte nem a Rússia divulgaram detalhes de quaisquer acordos alcançados durante o encontro, mas os observadores apontam que está claro o que cada um busca na relação. Moscou precisa de novos suprimentos de munições para sua guerra na Ucrânia, enquanto Pyongyang, após anos de sanções devido a seu programa nuclear e de mísseis, precisa de recursos, energia e tecnologia militar.
O possível fornecimento de munições pela Coreia do Norte para a Rússia pode criar uma perspectiva complexa para a China, que é o maior parceiro comercial da Coreia do Norte e ainda mantém laços diplomáticos fortes com a Rússia. Pequim tem se esforçado para retratar-se como um defensor da paz no conflito na Ucrânia, parte de uma tentativa de reconquistar a boa vontade perdida na Europa, que se afastou devido aos laços crescentes entre Pequim e Moscou.
Além disso, os Estados Unidos e seus aliados europeus estão aumentando a pressão sobre a China devido à sua postura em relação à Rússia e à Coreia do Norte. Essa pressão tem desestabilizado ainda mais as relações geopolíticas na região e aumentado o equilíbrio de poder global.
A China, que tem uma relação complexa com ambos os países, apoiou sanções anteriores da ONU contra os programas de armas da Coreia do Norte, mas também foi criticada por sua aplicação arbitrária desses controles. Nos últimos anos, a China bloqueou esforços para reforçar as sanções e liderou iniciativas para aliviá-las.
Enquanto a comunidade internacional espera que a China exerça pressão sobre a Coreia do Norte e a Rússia, Pequim busca equilibrar seus interesses econômicos e geopolíticos na região. A China continuará monitorando de perto a situação, equilibrando seus interesses econômicos e geopolíticos à medida que a relação entre a Rússia e a Coreia do Norte evolui.