Numa terça-feira escaldante, com termômetros marcando 32 graus, uma fila de mais de 100 metros se formava em frente ao restaurante popular da Central do Brasil. O cardápio acessível, por apenas R$ 1, composto por arroz, feijão, salada, legumes, duas opções de carne, suco e sobremesa, quando disponíveis, conquista a comunidade.
Os destaques são os dias dedicados à feijoada, frango assado e dobradinha, nesta ordem, eleitos como os favoritos pelos frequentadores. Fernanda Gomes, nutricionista do restaurante de Belford Roxo, revela que, devido à alta demanda, a feijoada tornou-se fixa nas sextas-feiras, alcançando a venda diária de 2 mil almoços.
O programa Restaurante do Povo, desenvolvido pelo governo estadual em parceria com prefeituras e entidades como o Sesc, oferece refeições de segunda a sexta, das 11h às 15h, a preços populares. Juscelino dos Santos, cozinheiro de 69 anos e morador da Lapa, é entusiasta da dobradinha, feijoada e frango assado, destacando a qualidade das carnes servidas.
O levantamento da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, ouvindo cerca de 25 mil pessoas que frequentam as dez unidades do programa, revelou a preferência pelos pratos mencionados.
Vânia Maria da Silva, 39 anos, frequentadora da unidade da Central, destaca o frango assado como o preferido de sua família. Desempregada e em busca de um novo trabalho, ela enfatiza a importância do restaurante como opção acessível. Seu sobrinho Theo, de 1 ano, aproveita a sobremesa do dia: o doce pingo de leite.
Os pequenos também têm seu espaço nos restaurantes populares. Gael, de 1 ano, acompanhado pelo pai, Paulo Galante, de 19 anos, trabalhador da construção civil, desfruta da praticidade e rapidez das refeições populares. A média diária de consumo nos dez estabelecimentos do programa Restaurante do Povo chega a cerca de duas toneladas e meia de alimentos.
Rosangela Gomes, secretária estadual de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos, responsável pelos restaurantes, destaca a realização pessoal de contribuir para alimentar a população, especialmente após passar por dificuldades na infância. Em seu cargo há nove meses, já há planos de abrir novas unidades no próximo ano.
Enquanto pais e filhos dividem o almoço lado a lado, como Ângelo Reis Nascimento, mecânico desempregado de 49 anos, que almoça com a filha Caroline Kelly, de 8 anos, a fila sob o sol escaldante é uma queixa comum. José Antônio Girão Monteiro, aposentado de 70 anos, destaca a falta de prioridade para idosos na fila.
A Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos informou que medidas estão sendo tomadas para melhorar a experiência, incluindo a instalação de toldos e um gradeado para organizar as filas. Vânia Maria ainda sugere melhorias, destacando a falta de suco e água gelada nos últimos dias.
Em meio a desafios, os restaurantes populares do Rio continuam sendo um ponto de encontro para diversas histórias, onde as preferências gastronômicas se entrelaçam com a realidade econômica de muitos cariocas.