Secretário de Educação do Rio se omite de responsabilidade sobre ‘Cavalo tarado’ nas escolas

Foto: Divulgação/Reprodução
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Por Patrick Guimarães

Além das apresentações em total desacordo com os espaços onde foram realizadas – as escolas – também gerou certa estranheza o fato de o prefeito Eduardo Paes não ter sequer citado o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, em seu discurso indignado sobre o vídeo da performance com a música “Cavalo ficou tarado”, no Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) Luiz Carlos Prestes, na Cidade de Deus. Sem responsabilizar ou cobrar explicações do titular da pasta, o prefeito deixou a “bomba explodir” mesmo nas mãos dos diretores das unidades de educação infantil envolvidas na polêmica.

O caso surgiu na última segunda-feira (28/08). Em vídeo, Eduardo Paes se mostrou indignado e classificou as cenas como “absurdas e inapropriadas para o ambiente escolar”.

Nesse ponto o prefeito acertou. Foi rápido e preciso ao se posicionar. Contudo, esqueceu (ou não) de responsabilizar o secretário e sua equipe de assessores especiais e coordenadores, que apesar de ganharem altos salários, de mais de R$ 20 mil, parece não haver cobrança à altura dessas remunerações.

Seguindo a retórica de Eduardo Paes, que sequer citou o nome do secretário Renan Ferreirinha, nesta quarta-feira (30/08), a secretaria municipal de Educação do Rio (SME) disse em nota enviada aos veículos de imprensa que “decidiu afastar os diretores de quatro escolas da rede, onde ocorreram apresentações polêmicas e de conotação sexual de um grupo de dança”.

Informações indicam que a Cia Suave, responsável pelas apresentações, integraram parceria com a Secretaria Municipal de Cultura e tiveram o fomento da Prefeitura do Rio.

A prefeitura confirmou e disse que o grupo foi selecionado por uma comissão independente, em edital público, no ano passado. Aparentemente, não teve nenhum zelo sobre o que seria apresentado às crianças nas escolas.

Secretário não se pronunciou

Apesar da gravidade e repercussão sobre o assunto, o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, não expôs nenhum posicionamento sobre o assunto. Se limitou a repostar em suas redes sociais o vídeo do prefeito Eduardo Paes furioso com o ocorrido.

No corpo da mensagem, Ferreirinha jogou toda a responsabilidade para os artistas e escreveu:

“O tal grupo artístico independente, que mentiu pra (sic) escola sobre a indicação de classificação livre, está proibido na educação carioca e já abrimos uma sindicância”, Renan Ferreirinha, secretário municipal de Educação do Rio.

Entretanto, é difícil compreender como a secretaria de Educação de uma das principais cidades do país não teria o controle sobre os conteúdos apresentados aos alunos nas unidades educacionais. Vale ainda ressaltar que o grupo passou pelas regras de um edital público, documento que, no mínimo, tem a questão da classificação etária entre as exigências, principalmente neste caso, onde figuram crianças e adolescentes.

Post do secretário de Educação com Eduardo Paes indignado — Foto: Reprodução/Redes Sociais

Questionamentos feitos à SME

Por e-mail, a equipe de reportagem do jornal RIO PRESS questionou a secretaria de Educação e quis saber:

1 – Por que nenhuma equipe avaliou o conteúdo da apresentação?

2 – O que é feito pela SME para evitar esse tipo de situação?

3 – Qual equipe da SME responde por esse cuidado sobre a avaliação dos conteúdos expostos aos alunos? Censura, faixa etária, etc.

4 – Na avaliação do secretário Renan Ferreirinha, somente os(as) diretores(as) das escolas envolvidas serão responsabilizados(as)? Assessores especiais e coordenadores com altos salários não responderão?

5 – Por que o secretário não se manifestou publicamente, se limitando apenas a afirmar que “o grupo artístico mentiu sobre a classificação etária”, e publicando apenas o vídeo do prefeito em suas redes sociais? Não houve um erro interno na secretaria?

Até o fechamento da edição da matéria, o secretário Renan Ferreirinha não havia se manifestado. Também foi feito contato com o assessor especial da pasta João Pires, mas também não houve retorno. O espaço está aberto e o texto será atualizado caso haja algum posicionamento.

Relembrando o caso

Na gravação polêmica, integrantes da Cia Suave dançam a música intitulada “Cavalo ficou tarado”. Na plateia, a maioria crianças e alguns adolescentes.

Com uma máscara de cavalo, ao fundo o som alto, uma mulher cavalga sobre um homem no pátio do Ciep. A letra continha trechos como “olha os cavalos no cio”, “vem mulher, vem galopando que o cavalo tá chamando”, “cavalo taradão”, “cavalo ficou danado, galopa de frente, galopa de lado”, “ela toma, ela vai pra frente, ela vai pra trás”, “depois senta e rebola”.

Além do CIEP Luiz Carlos Prestes, na Cidade de Deus, onde foi gravado o vídeo que viralizou, diretores de outras três escolas também foram afastados pela mesma apresentação, o que indica um provável erro sistêmico em relação ao controle dos conteúdos que vão para os alunos das escolas municipais do Rio.

Curiosamente, enquanto o habilidoso prefeito Eduardo Paes tem seguido o protocolo combativo sobre um tema que não poderia, de forma alguma, passar despercebido, o secretário Renan Ferreirinha age como se nem fosse com ele, nem com sua equipe de “notáveis”.

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