Paciente perdeu dedo e família acusa Pronto Socorro de São Gonçalo

Foto: Divulgação/Reprodução
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Por Patrick Guimarães

Parece até mentira, conspiração, história inventada, mas é verdade. Em 7 de junho desse ano, a cozinheira Priscila Ramos Martins, de 36 anos, deu entrada no Pronto Socorro Central (PSC) de São Gonçalo devido a uma infecção em um dos dedos da mão direita. Depois dessa data, ela voltou à unidade outras três vezes em busca de ajuda. Sem o tratamento adequado e exames básicos, somente no quarto atendimento a diagnosticaram com diabetes. E o dedo, ela acabou perdendo.

A história de agonia da família e o descaso encontrado na rede pública de saúde do município transcorreu em um período curto, de apenas 11 dias, mas suficientes para resultar na amputação da paciente.

Com o dedo infeccionado, Priscila buscou atendimento no PSC pela primeira vez no dia 7 de junho. Foi medicada com antibióticos e enviada de volta para casa. Como não houve melhora, no dia 10 ela retornou em busca de ajuda. Recebeu o mesmo tratamento e voltou para casa, fato que se repetiu outras duas vezes, nos dias 14 e 18 de junho.

Prontuário do primeiro atendimento no PSC, dia 7 de junho

“Ela passou quatro vezes no PSC, onde eles fazem triagem e perguntam se tem alguma doença preexistente, alergia a algum remédio, e foi dito nas três primeiras vezes que ela não sabia, mas que a nossa mãe tem diabetes e pressão alta. Eles não fizeram o teste de glicemia. Ela tinha furado o dedo, após ter se machucado com camarão durante o trabalho, e ficaram catucando (Sic) o dedo dela, catucando (Sic), aí na quarta vez (no PSC) eu vi que não tava (Sic) dando jeito só tomar antibiótico. Fui e exigi que fizessem o teste de glicemia. Fizeram, no dia 18 de junho, e a glicose dela tava (Sic) 377 e foi constatado que ela era diabética, mas nas três primeiras vezes não fizeram”, explica Adailton Ramos Martins, 34, irmão de Priscila.

Depois de ter procurado ajuda diversas vezes, ter sido medicada com antibiótico e enviada de volta para casa sem o tratamento adequado, a essa altura o teste simples de glicemia, que detectou a doença, já era tardio e a infecção já tinha piorado demais.

Segundo o irmão da paciente, na quarta vez que esteve no PSC, viram que não tinha mais jeito e aparentemente já sabiam que ela ia perder o dedo. Só então a transferiram para o Hospital Estadual Alberto Torres (HEAT), no Colubandê, onde abaixaram a glicose da paciente e fizeram uma raspagem para evitar que a infecção se espalhasse e Priscila perdesse toda a mão direita.

Somente na quarta vez (18/06) a unidade diagnosticou o problema

“Eles tinham que ter feito o teste de glicemia logo no primeiro atendimento, quando fizeram, por exigência minha, já não dava mais tempo. Achamos que foi negligência. Somente depois de quatro atendimentos mal feitos minha irmã foi transferida para o HEAT, onde ficou internada e recebeu tratamento adequado, mas perdeu o dedo”, diz Adailton, reclamando também não estar encontrando amparo na rede municipal de saúde para tratar as sequelas deixadas pela mutilação na irmã.

“Na segunda-feira passada (5/07), fomos procurar um tratamento indicado para ela, fazer curativo e teste de glicemia. No posto da Força (no bairro Mutuaguaçu) não tem médico há 30 dias. Já no posto do Mutuá não tem a fita para fazer o teste de glicemia”, revela Adailton, indignado com a situação.

Sem conseguir sequer fazer os curativos e testes na rede municipal de Saúde, Priscila tem ido fazer os curativos, duas vezes por semana, no HEAT, o que tem onerado a família em R$ 60 por semana com a ida e volta dela de casa para o hospital.

Sem uma das mãos, Priscila ficou sem poder trabalhar e atualmente está sem renda, já que não trabalhava com carteira assinada e ainda não deu entrada no pedido de benefício por doença crônica (diabetes) ao INSS.

Em casa, com a mão enfaixada, sem ter certeza sobre o futuro e sofrendo muito no presente, a cozinheira começou a apresentar sinais de depressão.

Amigos e parentes organizaram uma vaquinha para doar prótese à Priscila

Preocupados com a falta de assistência da rede pública, amigos e familiares estão realizando uma vaquinha virtual para angariar recursos, oferecer um tratamento adequado e adquirir uma prótese para a mão amputada. O endereço é http://vaka.me/2193536.

Também é possível doar através do Pix: 21998414190 (Adailton Ramos Martins); e na conta da paciente, Priscila Ramos Martins, Caixa Econômica Federal: Agência 3092 – 013 / Conta 31745-6.

“Dar a prótese a ela é uma forma que encontramos de diminuir o trauma e a depressão que isso tudo vem causando”, afirma Adailton. Até esta segunda-feira (12/07) foram arrecadados apenas R$ 200.

A prótese pretendida custa em torno de R$ 4 mil, mas só foi encontrada em São Paulo. Segundo explicou Adailton, será necessário Priscila e mais um acompanhante irem ao estado vizinho, o que vai gerar mais custos com passagens de ônibus, hospedagens, alimentação, etc.

A primeira consulta pós-cirurgia está marcada para o final de julho

No próximo dia 22, Priscila tem consulta marcada com o médico que a operou, na unidade estadual. Sobre o município, além da falta de insumos e serviços nos postos de saúde, a família afirma não ter recebido nenhuma assistência da Secretaria de Saúde até o momento e acusa o Pronto Socorro de negligência médica. Segundo parentes, o caso vai para a Justiça.

O CONTEXTO questionou a Prefeitura de São Gonçalo sobre o caso de Priscila e também sobre a falta de estrutura em algumas unidades de saúde, mas não obteve respostas até o fechamento da edição da matéria.

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