“Documentário em Abismo” usa narrativa sofisticada para abordar questões existenciais e profissionais em meio ao caos enfrentado pela humanidade
Os bastidores de um documentário produzido em meio ao caos da pandemia de Covid-19 a partir da realidade crua da sua atriz. Assim se desdobra “Documentário em Abismo”, filme com direção e roteiro de Camila Cohen.
A produção mostra a rotina de preparação de um documentário realizado através da lei Aldir Blanc, “Desconstruindo Maria”, bem como de sua atriz, interpretada por Josi Larger, que precisa lidar com seus questionamentos existenciais e profissionais imersos na neurose pandêmica. Realidade e ficção se misturam para mostrar um pouco do mundo cinematográfico e do existencialismo humano, através de uma narrativa que contém outra narrativa dentro de si, conhecida como “Narrativa em abismo”.
– “Documentário em Abismo” é uma docuficção que usa o estilo de narrativa em abismo para fazer uma alusão ao vazio e abismo existencial das nossas vidas. Também mostramos os bastidores e dificuldades do meio audiovisual e a sensação de distopia provocada pela pandemia da Covid-19. Durante a pandemia, muitos tiveram aquela sensação de que estavam vivendo algo tão surreal, que parecia um sonho, uma distopia – conta a diretora e roteirista Camila Cohen.
Narrativa em abismo
A “Narrativa em abismo” é uma técnica bastante utilizada na arte, seja no meio audiovisual, na literatura, ou na pintura. Essa ferramenta utiliza histórias ou imagens dentro delas próprias, ou melhor, são narrativas que contêm outras narrativas dentro de si. O termo original surgiu em francês “mise en abyme”, mas existem outros termos como “efeito Droste” ou “espelho infinito”. O universo de “Documentário em Abismo” mistura real com onírico em uma docuficção sobre o estilo de narrativa em abismo e o vazio existencial.
De acordo com a diretora, a ideia do filme surgiu com base em uma pesquisa sobre a “narrativa em abismo” em sites, entrevistas e conversas com artistas que usam esse artifício em suas obras. Filmes como “Sinédoque New York” e “Adaptação” utilizam este artifício em suas narrativas e serviram como referência para a construção do roteiro. Durante o levantamento, foi observado que não se fala muito desse tema, não há nenhum documentário sobre o assunto e poucos conhecem o termo. A possibilidade de criar um filme com essa peculiaridade aguçou a realizadora, uma vez que a narrativa em abismo permite explorar um aprofundamento do mundo narrativo através de diversas artes, inclusive o meio audiovisual.
– Entramos em contato com o nosso eu de forma mais profunda, existencialista, e até neurótica. E a narrativa da vida? Será que nós somos nós mesmos, vivendo nossas próprias vidas, ou somos uma marionete dentro de uma história maior? Além de ser um filme de metacinema, “Documentário em Abismo” também é um filme que trata do existencialismo humano – destaca Camila Cohen.
Lançamento
“Documentário em Abismo” terá um lançamento para convidados em breve, sessões online abertas ao público e participará de festivais pelo país a partir do segundo semestre.