Por Patrick Guimarães
Recém-eleito deputado federal, Dimas Gadelha (PT) dá sua avaliação para O CONTEXTO sobre o Estado do Rio de Janeiro, com destaque para a 16ª maior cidade do Brasil: São Gonçalo. Os reflexos na economia, os desafios em todas as áreas e a força direta do presidente Lula no Estado do Rio, caso seja eleito presidente no segundo turno das eleições.
O CONTEXTO – Apesar de abrigar a segunda maior população do estado, com mais de um milhão de habitantes, São Gonçalo amarga a 86º colocação no ranking de *renda per capita entre os 92 municípios do Rio de Janeiro, com R$ 16.916,33. Nas vizinhas Niterói, Maricá e Itaboraí, por exemplo, esses números sobem para R$ 90.643,80, R$ 232.761,15 e R$ 20.484.24, respectivamente. Como você avalia isso e o que deve ser feito para desenvolver a economia da cidade?
DIMAS GADELHA – Acredito que um governo deve priorizar o olhar humano e social. Não adianta apenas uma parcela da população ter o que precisa para viver com dignidade, enquanto outras vivem sem o básico e em muitos casos completamente à margem da sociedade. O abandono resulta em desemprego, violência e contribui para o aumento das desigualdades sociais e econômicas. É preciso que o Brasil volte a ter um modelo igualitário, sem preconceitos e racismos, com respeito à Constituição, que garanta alimentação, moradia, emprego e oportunidades para as famílias. Nesse contexto, o presidente Lula é a pessoa certa, porque ele se preocupa em incluir o pobre no orçamento, em ampliar as chances das pessoas e a tornar áreas tão importantes como educação, saúde e emprego mais dignas. Acho muito difícil um país se desenvolver como deve sem este tom de igualdade. Por que um trabalhador pode ter tudo e outro nem o mínimo para sobreviver? Acho que devemos buscar essa reflexão. E o Lula quando teve a oportunidade não somente refletiu, mas colocou em prática, oferecendo acesso à universidade, ao emprego e à saúde, por exemplo. O Lula trouxe dignidade e orgulho para os brasileiros.

OC – São Gonçalo acumula baixos índices nas mais distintas áreas. O desenvolvimento humano (IDHM) não chega a 1%, tendo registrado um mísero crescimento de 0,21% em mais de 20 anos. Na sua visão, qual é o impacto disso na economia do estado e entre a população?
DIMAS GADELHA – Assim como São Gonçalo, o Estado do Rio possui cidades que foram esquecidas nas últimas décadas. Somente em ano eleitoral, os municípios das regiões Metropolitana e Baixada, por exemplo, recebem asfalto e reformas em alguns lugares. Depois passam dois anos sem nada, até a eleição seguinte. Dessa forma, muitas cidades cresceram com a ausência de planejamento. Setores da economia simplesmente sumiram, assim como a autoestima de seus moradores, cansados de promessas que nunca são cumpridas. E esse ciclo de pobreza e descrença, que só cresce dia a dia, foi quebrado no governo do Lula. Não adianta eu e minha família comermos carne, se os meus vizinhos não têm sequer o que comer. Não adianta o meu filho ir para a faculdade, se no meu bairro várias famílias não têm acesso à boa educação e seus filhos não vão ter oportunidades de qualificação profissional. A gente acaba formando uma parcela da sociedade, dando ferramentas para crescerem enquanto cidadãos, mas acaba deixando de lado aqueles que estão do nosso lado. As consequências estão aí. Um estado lindo como o Rio de Janeiro, com gente trabalhadora, honesta e que não foge à luta, mas que perde seus jovens para a criminalidade, assim como milhares de famílias vivem em pânico ao sair de casa e retornar. Temos que entender que a violência se espalha e não se limita somente às áreas mais pobres. É um ciclo que não termina. Por isso, acredito que devemos ter a preocupação de desenvolver todas as áreas. São Gonçalo, por exemplo, tem um papel fundamental para a economia do Rio de Janeiro, devido à mão de obra e o consumo da enorme população, que ajuda a mover a economia do estado.
OC – Entre as 5.570 cidades brasileiras, São Gonçalo chama a atenção pela 21ª posição no ranking de concentração de população, com mais de quatro mil habitantes por quilômetro quadrado. A economia não gera recursos para suprir a grandiosidade do município, sob vários aspectos. Como esse ciclo de aumento populacional desenfreado somado aos problemas acumulados em uma das maiores metrópoles do Brasil (16ª) tem relação com a violência, na cidade e região?
DIMAS GADELHA – O crescimento demográfico é um problema em todo Brasil, infelizmente. Presenciamos o crescimento das cidades, porém suas arrecadações e orçamentos não acompanham o aumento populacional que vêm sofrendo. Faltam escolas, unidades suficientes de saúde, centros de qualificação profissional, emprego e renda. Lazer, cultura e segurança também não suprem as necessidades das famílias. Como disse na resposta anterior, a violência não se restringe às áreas mais carentes. Ela se espalha. Algumas pessoas preferem não enxergar, mas ao inserir os jovens das comunidades na universidade e no mercado de trabalho, com qualificação profissional e oportunidades, como fez o presidente Lula, a gente reduz as desigualdades e passa a construir uma sociedade muito melhor. Quem teve estrutura e orientação familiar, a chance de estudar e buscar um futuro melhor, larga muito na frente daqueles que não têm. A pobreza passa de pai para filho. O sofrimento causa revolta, que por sua vez resulta em aumento da violência. A gente tem assistido a isso nas últimas décadas.

OC – O que representa o Lula na presidência para municípios como São Gonçalo? Como essa relação direta entre vocês, que são do mesmo partido (PT), vai se refletir para a população?
DIMAS GADELHA – O Lula é a pessoa mais sensível aos problemas da sociedade que eu já conheci. Ele realmente se importa com as pessoas e conhece a fundo o que passam. Sua história de vida é a base do seu olhar sobre o Brasil. Líder nato, é respeitado em todo mundo pelo combate à fome, pela inclusão social e econômica que promoveu no período em que foi presidente. Lula de novo na presidência representa um país com mais esperança e oportunidades, com mais amor e menos ódio. Eu mesmo atuei na linha de frente da área da saúde de São Gonçalo durante 20 anos. Trabalhei como médico em emergências e plantões de atendimento à população, assumi cargos de coordenações e diretorias, o que me levou a ser secretário de Saúde da cidade e a implementar quase 60 aparelhos de saúde no município, como programas voltados para a atenção básica, o serviço de atendimento domiciliar (SAD), a criação de clínicas da família, novos postos de saúde, consultório itinerante para moradores de rua, entre muitas outras iniciativas. O contato direto com a população durante todos esses anos me fez enxergar o que as pessoas precisam, de verdade. Passei a saber onde agir para melhorar a vida da população. Com o Lula presidente, acredito que vamos poder avançar ainda mais, com mais emprego, geração de renda e inclusão em todas as áreas. O Lula valoriza a educação, a ciência, os esportes, a igualdade, o meio ambiente, a cultura, o social. Ele se preocupa com a qualidade de vida e o futuro das pessoas, independente da classe social, cor, religião ou ideologia política. Na presidência, Lula vai governar para todos, sem distinção. Tenho absoluta certeza disso.
* O deputado federal Dimas Gadelha é médico sanitarista, ex-secretário de Saúde de São Gonçalo-RJ e ex-secretário de Gestão e Metas de Maricá/RJ. Natural da cidade de Souza, na Paraíba, se formou pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), da Fiocruz, e também é formado em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
* Renda per capita ou renda por pessoa é o Produto Interno Bruto (PIB) dividido pelo número de seus habitantes.
* Todos os dados foram extraídos das planilhas disponibilizadas pelo IBGE.