A crise que derrubou o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, Rodrigo Bacellar, não apenas expôs mais um capítulo da instabilidade política fluminense, como também antecipou a disputa pelo governo do estado e abriu espaço para novas lideranças com voto e lastro popular, entre elas o secretário das Cidades, Douglas Ruas, e seu pai, o prefeito reeleito de São Gonçalo, Capitão Nelson. Em meio ao vácuo de poder e à necessidade de encontrar um nome capaz de manter o projeto do Palácio Guanabara em 2026, o eixo político gonçalense surge como uma das alternativas mais consistentes dentro do campo conservador.
Nas últimas décadas, o Rio se acostumou a conviver com governadores afastados, presos e sucessões confusas, mas o afastamento de Bacellar levou o xadrez a um novo patamar. Acusado de vazar informações de uma operação policial que mirava a ligação entre política e tráfico, o então presidente da Alerj perdeu o cargo e teve a carreira política colocada em xeque. A decisão mexeu diretamente na linha sucessória do estado, justamente no momento em que o governador Cláudio Castro, impedido de buscar um terceiro mandato, prepara sua candidatura ao Senado e precisa deixar o comando do Palácio Guanabara em 2026.
A situação é ainda mais delicada porque o Rio não tem hoje vice-governador. O antigo ocupante do posto, Thiago Pampolha, foi indicado ao Tribunal de Contas do Estado em uma articulação que, à época, tinha como objetivo abrir caminho para Bacellar assumir o governo e disputar a reeleição com a caneta na mão. A queda do presidente da Alerj, porém, implodiu esse plano e embaralhou o jogo.
Sem ele, o caminho natural passa a ser uma eleição indireta, conduzida pela própria Alerj, para definir quem comandará o estado até o pleito de outubro.
Enquanto o presidente do Tribunal de Justiça surge como figura institucional que poderia assumir temporariamente em caso de vacância, nos bastidores a ordem é clara: a base governista quer alguém de confiança de Castro, mas também com densidade eleitoral.
Nesse ponto, crescem as resistências a um nome puramente técnico, como o chefe da Casa Civil, Nicola Miccione, visto como leal e discreto, porém sem histórico em disputas nas urnas. Deputados do próprio PL têm sinalizado que não pretendem entregar o governo a alguém sem voto e com pouca chance de se viabilizar na eleição direta.
Foi nesse ambiente que uma reunião estratégica, articulada por Castro e pelo deputado federal Altineu Côrtes, presidente estadual do PL, colocou na mesma mesa lideranças já testadas nas urnas. Entre os presentes, dois nomes se destacaram: o prefeito de Itaboraí, Marcelo Delaroli, e o secretário das Cidades, Douglas Ruas, ambos entre os mais votados do estado em suas respectivas disputas.
Quando questionados sobre a possibilidade de assumirem o comando do Rio, Delaroli demonstrou abertura, mas adotou tom cauteloso. Douglas Ruas, por sua vez, reforçou o desejo de permanecer deputado e disputar a presidência da Alerj, posto que, na prática, é o segundo mais poderoso da política fluminense.
Mesmo deixando clara sua prioridade na disputa pelo comando da Alerj, a presença de Douglas Ruas nesse núcleo duro da articulação revela o peso político que o secretário passou a ter no cenário estadual. Com ampla votação, atuação à frente da Secretaria das Cidades e trânsito direto com o governador e a cúpula do PL, Ruas se credencia como quadro estratégico: é capaz de dialogar com prefeitos, com a base parlamentar e com o eleitorado conservador que sustenta o atual governo.
Em caso de mudança de rota ou necessidade de composição mais ampla, seu nome aparece naturalmente como opção viável para integrar ou até liderar uma chapa majoritária.
Transformação em SG impulsiona Ruas
Esse protagonismo ganha ainda mais força quando se observa a base de onde vem Douglas Ruas: São Gonçalo. Sob o comando de seu pai, o prefeito Capitão Nelson, a cidade consolidou um dos colégios eleitorais mais importantes do estado dentro do campo conservador.
Após décadas de estagnação, a cidade registra avanços significativos, principalmente nas áreas de urbanização, mobilidade, transporte e segurança pública. Nessa levada de avanços, anseios antigos dos gonçalenses, o prefeito, hoje, tem aprovação histórica na cidade, e com isso conquistou importante lastro político na Região Metropolitana.
A soma da gestão de Capitão Nelson em São Gonçalo com a projeção estadual de Douglas Ruas cria um eixo político robusto, capaz de entregar votos e construir alianças em várias frentes. Enquanto outros nomes citados nas especulações, como o deputado federal Doutor Luizinho, dão sinais de que preferem manter seus mandatos em Brasília e mirar cargos de comando no Congresso, o grupo de São Gonçalo mostra organização e projeto. Não por acaso, cresce nos bastidores a leitura de que qualquer solução estável para a sucessão de Castro passa por ouvir e considerar a força desse bloco.
O afastamento de Rodrigo Bacellar, que poderia ser apenas mais um escândalo na já turbulenta política fluminense, acabou antecipando um debate de fundo: quem tem condições reais de liderar o estado depois de 2026, manter a agenda de combate ao crime organizado e garantir investimentos em infraestrutura e serviços básicos?
Em análise que considera a posição de São Gonçalo na política estadual, Capitão Nelson e Douglas Ruas passam a figurar como boas opções para comandar o governo do estado do Rio.
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