A guerra às drogas no Rio de Janeiro: Investigação revela prejuízo milionário causado por ações Policiais em Favelas

A guerra às drogas no Rio de Janeiro: Investigação revela prejuízo milionário causado por ações Policiais em Favelas
Foto: Divulgação/Reprodução
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Uma investigação reveladora conduzida em duas comunidades cariocas, o Complexo da Penha e o Complexo de Manguinhos, lança luz sobre os impactos econômicos devastadores das ações policiais nas favelas do Rio de Janeiro. Os dados obtidos indicam que essas operações causam um prejuízo anual estimado em R$ 14 milhões para os residentes dessas áreas já marginalizadas. Essas cifras são apenas a ponta do iceberg, pois as implicações vão além dos aspectos financeiros, mergulhando em questões sociais, emocionais e de segurança.

A pesquisa intitulada “Favelas na Mira do Tiro: Impacto da Guerra às Drogas na Economia dos Territórios” foi minuciosamente conduzida pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC) e traça um panorama alarmante das consequências das ações policiais frequentes nessas comunidades.

Rachel Machado, socióloga e coordenadora da pesquisa, expressou sua preocupação com o custo humano dessa situação. Ela enfatiza que o dinheiro perdido é substancial e que faz falta para os moradores locais. São pessoas que estão arcando com o ônus de uma guerra imposta a elas, uma guerra marcada por ações violentas e muitas vezes descoordenadas do próprio Estado.

Os números do estudo são impactantes. Entrevistaram-se 400 moradores do Complexo da Penha e 400 do Complexo de Manguinhos, ambos na zona norte do Rio de Janeiro. Essas áreas foram escolhidas devido à alta incidência de tiroteios decorrentes de ações policiais entre junho de 2021 e maio de 2022, conforme dados do Instituto Fogo Cruzado, que monitora a violência armada na cidade.

Os resultados revelam que 60,4% dos moradores economicamente ativos nesses complexos foram impedidos de trabalhar devido às operações policiais, resultando em uma perda média de 7,5 dias de trabalho por ano. Isso equivale a uma semana e meia de salário em um calendário com 264 dias úteis.

Para lançar luz sobre o impacto nos estabelecimentos comerciais locais, a pesquisa incluiu a opinião de 303 comerciantes das favelas Vila Cruzeiro, na Penha, e Mandela de Pedra, em Manguinhos. A constatação é angustiante: as operações policiais causaram um prejuízo anual estimado de R$ 2,5 milhões, o que corresponde a uma impressionante parcela de 34,2% do faturamento desses negócios.

Além disso, mais de 50% dos comerciantes tiveram que fechar temporariamente suas portas devido a tiroteios, impactando significativamente as vendas e atendimentos. Em um ambiente onde cada centavo conta, essa situação tem efeitos duradouros e prejudiciais.

Por trás desses números alarmantes, escondem-se histórias de vidas desfeitas e sonhos interrompidos. As ações policiais não apenas privam os moradores de suas fontes de renda, mas também os impedem de utilizar meios de transporte, praticar atividades de lazer, receber encomendas, comparecer a consultas médicas e buscar educação.

Em um país onde o acesso à educação e à saúde já é desigual, essa realidade só amplifica as desvantagens enfrentadas por essas comunidades. Os jovens são particularmente afetados, pois veem seu acesso à educação e oportunidades de trabalho comprometidos.

O impacto econômico é inegável, mas é importante ressaltar que há perdas incalculáveis que vão além dos números. As operações frequentes e a violência constante nas favelas deixam cicatrizes profundas nas vidas dos habitantes, cicatrizes que não podem ser mensuradas em termos monetários. Há vidas perdidas, famílias destroçadas e comunidades que vivem sob um estado constante de tensão e medo.

De acordo com o Instituto de Segurança Pública (ISP), em 2022, 29,7% de todas as mortes violentas no estado do Rio de Janeiro foram resultado de ações das forças de segurança, totalizando 1.327 mortes. O mesmo instituto aponta que, nos últimos 7 anos, as ações e operações policiais foram a principal causa de morte de crianças e adolescentes. Nesse período, 112 crianças e adolescentes perderam a vida, e 174 ficaram feridos devido a essas ações.

Em 2023, já foram registrados 100 agentes de segurança pública baleados na região metropolitana do Rio de Janeiro. Dessas vítimas, 44 não sobreviveram, e 56 ficaram feridas. Em sua maioria, essas ações ocorrem em territórios predominantemente habitados por pessoas negras.

Em suma, essa investigação revela um quadro angustiante de prejuízos financeiros e humanos causados pelas ações policiais em favelas. Os impactos econômicos são visíveis, mas as cicatrizes emocionais e sociais são igualmente graves. Fica claro que é essencial buscar alternativas para lidar com o tráfico de drogas e a violência nas comunidades, uma vez que a atual abordagem está custando vidas, oportunidades e uma parcela significativa da economia das favelas cariocas. A guerra às drogas não deve continuar às custas daqueles que mais sofrem.

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