Por Patrick Guimarães
No discurso político, as nuances retóricas são as grandes estrelas no processo eleitoral. Afinal, são as ideias revolucionárias e inovadoras que tomam conta do debate político. Nesta semana, chamou a atenção o fato de o deputado federal Dimas Gadelha (PT-RJ) ser muito combativo às questões relacionadas à São Gonçalo, onde faz oposição ao atual prefeito, Nelson Ruas (PL), e pretende concorrer ao topo do executivo gonçalense em 2024, mas não ter citado ou cobrado explicações do seu aliado político Waguinho (Republicanos), prefeito de Belford Roxo, sobre denúncias de mau uso de dinheiro público pela prefeitura, em dois casos diferentes.
No primeiro caso, o RJTV2 cobrou explicações sobre a reforma de uma creche municipal que não existe e nem nunca existiu no endereço registrado na licitação das obras, que custaram R$ 300 mil, mais um termo aditivo de mais de R$ 130 mil. Segundo a reportagem, seria uma creche fantasma. A empresa contratada abandonou a obra e a sala onde funcionava a sede, onde deixaram uma dívida de R$ 16 mil. Os responsáveis estão sendo procurados.
Engatando uma denúncia na outra, o mesmo telejornal mostrou o gasto exorbitante de mais de R$ 3,6 milhões em decoração natalina, sem licitação ou documento apresentado.
Apesar de a prefeitura de Belford Roxo ter respondido não haver irregularidades no processo da decoração natalina, não foi encontrado processo ou documento referente à licitação em nenhum portal de transparência de dados. Sobre a creche, não houve resposta.
Ambos os casos estão sendo investigados pelo Ministério Público estadual, segundo o órgão, e foram noticiados na edição do RJTV2 da última terça-feira (28/11).
Como deputado federal eleito pelo Rio de Janeiro, Dimas Gadelha pode (e deve) fiscalizar as instituições públicas do estado. É interessante analisar e comparar os discursos com as ações. Quanto ao que se cobra ou se consente, depende do grau de conveniência.
Neste caso, Dimas Gadelha tem interesse direto no município de São Gonçalo, devido a uma possível disputa pela prefeitura, nas eleições do ano que vem, apesar de não ser o nome mais querido entre os mais antigos do diretório municipal do seu partido, em São Gonçalo.
Contudo, seu mandato na Câmara dos Deputados serve a toda população do estado. Focar apenas onde tem interesse político e fechar os olhos para os problemas de outras cidades, por conveniência eleitoral, simboliza um pensamento arcaico e atrasado, pois todos sabem que não adianta eu ter tudo e meu vizinho não ter nada. Certamente, as consequências negativas das diferenças sociais e econômicas vêm e virão, cada vez mais.
Visões questionáveis
No início do mês de novembro, foi votado e aprovado na Câmara dos Deputados o projeto de lei 3780/23, de autoria do deputado federal Kim Kataguiri (União-SP), que altera o Código Penal Brasileiro para aumentar as penas aos crimes de furto e roubo.
Ao votar contra a proposta, Dimas Gadelha demonstra não conhecer bem a cidade onde conquistou a maioria dos seus votos: São Gonçalo. Deputados do seu partido, com uma visão mais ampla sobre a questão, foram a favor.
Será que deixar tudo como está não seria um incentivo aos criminosos? Ao tentar impedir penas mais severas contra aqueles que agridem e causam prejuízos à sociedade, fica uma interrogação sobre como o deputado enxerga a questão da violência. A impressão é de que não compreende a complexidade em volta da criminalidade no estado do Rio.
Para o autor do projeto, “a certeza da impunidade faz o crime valer a pena”. Kataguiri também critica a progressão do regime de cumprimento da pena, que, segundo ele, “colabora para que os criminosos fiquem menos tempo na cadeia”. A proposta foi aprovada no dia 1º/11.